“Um
dia você vai se lembrar de mim. Os números da sua agenda passarão
claramente na sua frente e você não terá nenhum para discar. Talvez, até
tente o meu, mas até lá posso não querer mais te atender ou talvez nem
seja mais meu aquele número. Você vai tentar chamar alguém, mas não vai
haver ninguém pra sair correndo e te dar um abraço, nem te colocar no
colo ou acariciar seus cabelos até que o mundo pare de girar. Nessa
fração de segundo, quando seus pés perderem o chão, você vai lembrar do
meu carinho e do meu sorriso infantil. Virão súbitas memórias gostosas
dos meus beijos e abraços, da minha preocupação quando você saía e
esquecia de pegar a blusa de frio… E só terá uma música repetindo no seu
rádio: a nossa doce sinfonia. Em um novo momento você vai sentir um
aperto no peito, uma pausa na respiração, e vai torcer bem forte para
ter o nosso mundinho de volta, mundinho difícil, mas cheio de amor e
carinho. Vai ouvir a chuva cair e vai sentir um
imenso vazio por não ter um grande amor pra compartilhar esse momento.
Não terá alguém para brincar de se jogar na grama nos dias ensolarados,
nem para admirar o pôr-do-sol sobre a ponte da pequena cidade. Talvez,
nem consiga mais sentir o frescor do vento. O nome disso é saudade,
aquilo que eu tinha tanto e te falava sempre. E quando você finalmente
bater na minha porta, ela estará trancada, ou se aberta, mostrará uma
casa vazia. Seus olhos te ensinarão o que são lágrimas, aquelas que eu
te disse que ardiam tanto. E você vai lembrar dos carinhos nas costas
pra você dormir, dos paninhos quentes pra aliviar sua dor de madrugada,
da minha inocência que ria de tudo que você falava, do meu jeito bobo,
do meu jeito de tentar te fazer feliz… O nome do enjoo que você vai
sentir é arrependimento, e a falta de fome será a tristeza, a mesma que
eu senti por tanto tempo. Um dia você irá se deitar, e quando olhar para
o teto do quarto escuro, vai se lembrar que as estrelas poderiam estar
lá, para iluminar todas as suas noites frias. Mas tudo o que você verá é
a escuridão. Então quando os dias passarem e eu não te ligar, quando
nada de bom te acontecer e ninguém te olhar com os meus olhos
encantados… você encontrará a solidão. E você vai ver que diante de tudo
isso, alguns dos meus defeitos poderiam ter sido perdoáveis. A partir
daí, o que acontecerá chama-se surpresa. E provavelmente o remédio para
todas essas sensações… é o tal do tempo em que você tanto falava!”
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