quinta-feira, 7 de agosto de 2014

"Eu quase consegui abraçar alguém semana passada. Por um milésimo de segundo eu fechei os olhos e senti meu peito esvaziado de você. Foi realmente quase. Acho que estou andando pra frente. Ontem ri tanto no jantar, tanto que quase fui feliz de novo. Ouvi uma história muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca que fez os funcionários irem trabalhar de pijama. Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo. Hoje uma pessoa disse que está apaixonada por mim. Quem diria? Alguém gosta de mim. E o mais louco de tudo nem é isso. O mais louco de tudo é que eu também acho que gosto dele. Quase consigo me animar com essa história, mas me animar ou gostar de alguém me lembra você. E fico triste novamente. Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias. Chorar deixou de ser uma necessidade e virou apenas uma iminência. Sofrer deixou de ser algo maior do que eu e passou a ser um pontinho ali, no mesmo lugar, incomodando a cada segundo, me lembrando o tempo todo que aquele pontinho é um resto, um quase não pontinho. Você, que já foi tudo e mais um pouco, é agora um quase. Um quase que não me deixa ser inteira em nada, plena em nada, tranquila em nada, feliz em nada. Todos os dias eu quase te ligo, eu quase consigo ser leve e te dizer: “Ei, não quer conhecer minha casa nova?” Eu quase consigo te tratar como nada. Mas aí quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo, sem nenhuma ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é só mais um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se Deus quiser, vira nada. Mas não vira nada nunca. Eu quase consegui te amar exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter sido inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser inteiro… Eu quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase não odeio aquela foto com aquelas garotas, eu quase não morro com a sua presença, eu quase não escrevo esse texto. O problema é que todo o resto de mim que sobra, tirando o que quase sou, não sei quem é."
- Tati Bernardi
"Escrevo para dizer que estou bem. Também escrevo para dizer que me lembro de você; não todos os dias, mas na maioria deles. Jamais cogitei a possibilidade de tentar te esquecer. Eu não me esqueço de ninguém que passa pela minha vida; por que esqueceria logo de você, que ontem era tudo e, hoje, já não é nada além de uma lembrança empoeirada na estante de minhas memórias?
Já cheguei a pensar que talvez você tivesse razão sobre a última coisa que me disse: que eu nunca amei você. Mas não… Você não estava com a razão. Eu te amei até deixar de amar e, só porque uma coisa não está mais lá, não quer dizer que ela nunca existiu. Nada é eterno, tampouco infinito. Nem mesmo o universo.
Eu acreditei que quando começasse a te escrever, o resultado seria um jorro de mágoas ou rancor, mas agora percebo que me enganei. Ao que me parece, quando parei de nutrir os sentimentos ruins em relação a você, eles desistiram de mim e foram procurar outra pessoa que os alimentasse.
Não desejo o seu mal; mas também não desejo o seu bem. Não te desejo nada. Será que isso me torna alguém ruim? Demorei muito tempo para conseguir uma resposta para essa pergunta, que só veio quando eu vi quando uma borboleta pousar no muro. Me dei conta de que eu não desejei a morte dela, entretanto não desejei que ela tivesse uma vida longa e feliz (pelo ponto de vista de uma borboleta, já que não sei o que elas consideram uma vida longa e feliz). Eu sou apenas indiferente e, apesar de acreditar que a indiferença possa ser um traço negativo em muitos casos, este não é um deles.
As nossas músicas não são mais as nossas músicas. Minha memória pode ser péssima às vezes, mas eu sentia orgulho por saber o seu número de cor. Hoje, se alguém me perguntar qual é o número do meu RG, eu não vou lembrar. Se me perguntarem quais os últimos dígitos do seu telefone, também não.
As pessoas estão certas quando dizem que a vida é sobre saber seguir em frente e é o que venho fazendo. Cada vez que eu olho para trás, você está sempre um pouco mais distante.
Me lembro de quando você me pediu para não te odiar. Pois saiba que não te odeio. Isso seria sentir muito por alguém que, hoje, é pouco."

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Julieta era uma idiota. Porque ela se apaixonou por aquele cara que ela sabe que não pode ter. Todo mundo acha isso tão romântico: Romeu e Julieta, amor verdadeiro, que triste. Se Julieta foi burra o bastante para se apaixonar pelo inimigo, beber uma garrafa de veneno e ir repousar num mausoléu, então ela teve o que merecia, e até hoje, eu acredito que, na maior parte do tempo, o amor é uma questão de escolhas. É uma questão de tirar os venenos e as adagas da frente e criar o seu próprio final feliz. Você pode desperdiçar sua vida construindo barreiras e fronteiras ou então você pode viver ultrapassando-as. Mas há algumas que são perigosas demais para serem cruzadas. E aí vai o que eu sei: se você estiver disposto a se arriscar, a vista do outro lado é espetacular...
"Eu te falei que iria, não te falei? Tu ficaste lá fazendo caras e bocas, ironizando para eu descer do carro e acreditando que eu jamais desceria. Até hoje, eu sinto saudade daquelas sandálias que eu deixei junto ao tapete do teu carro importado. Fiz contas de cabeça depois que eu saí a pé de lá e cheguei à conclusão: naquele momento era só o que te importava. Tua mania de achar que tudo era comprável confundiu-se em achar que eu também era uma peça. Até que, no final das contas, me considero uma. Mas não me vendo por pouco. Só aceito à vista! A vista de alguém tocando violão e namorando os meus olhos, colocando minhas meias em dias frios, aliando-se à minha mãe para falar das minhas crises de sonambulismo.
Tu mandaste eu ir me tratar e eu fui. Tratei de viajar, fazer novas amizades, pedalar sem rumo e terminar de ler aquele livro que tu me deste quando as coisas ainda eram boas entre nós. No final da história o namorado da guria morre. Sim. Eu sei que era evidente porque ele tinha câncer e ela também. Mas o mais surpreendente foi eu pensar que eles iriam morrer juntos. Quem morreu foi ele. A guria ficou uns meses apanhando de tamanca da saudade, mas depois voltou a viver novamente, a sorrir com os olhos e sobreviver com as lembranças no bolso.  Cheguei até pensar que foi deboche teu me dar aquele livro. John Green escreveu a nossa história por linhas tortas. E sabe o que é pior? A gente havia prometido que nunca nos deixaríamos. Que casaríamos no campo e teríamos um piá chamado Bernardo. Havíamos. Na verdade, eu acho que foi até melhor, sabe? Aquela tua mãe com aqueles incensos loucos, a fumaça do teu cigarro matando os meus pulmões a chineladas e a tua mania irritante de buzinar ininterruptamente após duas horas de atraso em frente à minha casa. Já tive saudade, hoje é só lembrança. Exatamente como o teu rosto fúnebre passando naquele carro que um dia já foi nossa casa. Teu sorriso que um dia foi meu, hoje fica aí, pela noite, tentando encontrar o brilho que um dia tivesse. Somos agora meros desconhecidos que, lá trás, dividiram a mesma escova. Espero que, com o vazio do teu banco carona, tenhas aprendido que o essencial não é a velocidade do deslocamento e sim a intensidade da companhia que torna as viagens mais duradouras. Amor, eu já fui. Tô lá. Tô sendo."