Eu
gosto mesmo é do abusado, do abuso, de quem abusa. Gosto de gente que
entra e não pede licença. Que atira o casaco em cima do sofá e não é
educado a ponto de estendê-lo no cabide. De gente que te puxa pelo
colarinho, ao invés de te pedir um beijo. Que te liga no meio da
madrugada dizendo que vai enfartar de saudade. Que te sequestra na
sexta-feira à noite e só te entrega na porta do teu trabalho na manhã de segunda-feira.
Gosto de gente que tem sede pela vida, que te namora em cima de um
colchão velho e lê tua citação favorita debaixo de uma árvore. Gosto de
gente que assiste a teu filme favorito contigo pela milésima vez, mesmo
sabendo que tu já decoraste todas as falas. Sou apaixonado por gente que
para a conversa com os amigos apenas para te cumprimentar. Que te vê
online e te chama no bate-papo. Que compartilha uma música que tu gostas
e te chama para dividir a cama de solteiro no domingo à tarde.
Gosto de mentes insanas, de beijos com sabor de vontade, de pele suada
como se ainda fosse perfume. Gosto de calor abafado nas cobertas, de
mãos bobas em horas ilegais, de risadas que evoluem para gargalhadas.
Gosto da insanidade maquiada com a impressão de bom guri.
Eu
tenho paixão pela vida, pelo mundo, por viver. Gosto de pessoas que
estejam prontas para seguir viagem. Que deixam a mochila ali,
semipreparada no cantinho do quarto, desprendidas de qualquer
acomodação. Aquele tipo de gente inteligente, que carrega a casa nos
ombros e leva o significado de abraços como suas segundas casas. Afinal,
o abuso só é merecido para quem se deixa abusar.
— Guilherme Pintto
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