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"Amor
é isso, não é? Segurar as pontas, quando mal se aguenta. Equilibrar-se
por dois sobre uma corda só. Não conseguir dormir porque o outro te
preocupa mais do que qualquer coisa. Amor é isso, não é? Não abandonar,
não desistir, ainda que o barco vire, que ponte caia, que o chão desabe.
Buscar aquilo que é melhor, mesmo não trazendo sorrisos imediatos. Não
ter o egoísmo e nem a malícia de permanecer só enquanto está tudo bem. É
aguentar tomar chuva, mesmo resfriado há tempos, enquanto não consegue
empurrar o outro para debaixo de um teto. É suportar mais do que
dizíamos capazes. É perdoar o imperdoável. Tentar carregar o dobro do
nosso próprio peso. É repetir um milhão de vezes a mesma coisa, se
necessário, por mais que a paciência esteja esgotada. Remar sozinho
quando o outro não tem forças. Quando não oferece ajuda, quando está
muito ocupado ou quando não tem tempo. Amor é isso, não é? muito além do
desespero de uma paixão consumida em chama.
Muito mais que ter alguém para acompanhar nas festas, para ligar à
noite, quando não se tem o que fazer; Muito mais que alguém para suprir
carência com abraços e beijos. É ter alguém sem possuir. É tornar-se, ao
mesmo tempo, morada e local de fuga. É ser professor, psicólogo e
companheiro de dança, tudo ao mesmo tempo. É enfrentar o escuro em um
lugar desconhecido, com a certeza de que haverá uma mão para amparar
qualquer queda. Deixar a zona de conforto porque o outro pede socorro.
Mergulhar em um rio congelado e profundo, nadar quantas milhas puder,
engolir água, choro e medo, aguentar o frio e a dor, porque alguém lá no
fundo espera suas mãos trêmulas e conta com a sua coragem para
carregá-lo até a margem. Mergulhar, sem olhar o peso no próprio bolso,
nesse rio de águas misteriosas. Esse rio chamado amor."
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