“Ontem
chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por
tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse
e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos.
Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela
guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de
paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e
aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da
estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no
guarda-roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela
culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E
não volta mais, pois que hoje já é outro dia.”
— Caio Fernando Abreu.
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